(fonte da imagem: http://www.jesocarneiro.com.br/artigos/educacao-politica-e-poder.html)
Olá a todos!
O tema desta
postagem está ligado à Análise de Discurso Crítica, minha linha de pesquisa. É
inegável o papel central da língua escrita em diversas atividades cotidianas,
como artigos de opinião, crônicas, decretos, romances, e-mails, postagens em
redes sociais, propagandas, reportagens,
etc. Para usarmos com maestria esses gêneros e conseguirmos expor nossas
opiniões e sentimentos da maneira como queremos nos expressar, é necessário o
domínio da língua escrita em suas mais diversas variedades.
A adequação
vocabular ao contexto comunicativo pode ser citada como aspecto mais saliente
para a maioria das pessoas. Em conversas informais com amigos no Facebook, por
exemplo, as pessoas costumam usar, sem grande perda de prestígio, diversas gírias
e abreviações. Contudo, o uso dessas variações em situações bastante formais,
como a redação do ENEM, pode ter como resultado a falta de prestígio dos
autores do texto, pelo menos é o que acontece na maioria das vezes.
Deixarei a
seguir o tema da redação e os textos motivadores feitos por especialistas que
adentram o tema de forma genial. Trate-se de leituras imprescindíveis para se compreender o
assunto com a devida profundidade.
Com base na leitura dos textos
motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa
sobre o tema O papel do domínio da
expressão escrita para o exercício do poder da palavra, apresentando
proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize
e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.
AS QUATRO PRIMEIRAS
REDAÇÕES POSTADAS NOS COMENTÁRIOS SERÃO CORRIGIDAS GRATUITAMENTE.
Linguagem, poder e discriminação
A linguagem
não é usada somente para veicular informações, isto é, a função referencial
denotativa da linguagem não é senão uma entre outras. Entre estas ocupa uma
posição central a função de comunicar ao ouvinte a posição que o falante ocupa
de fato ou acha que ocupa na sociedade em que vive. As pessoas falam para serem
“ouvidas”, às vezes para serem respeitadas e também para exercer uma influência
no ambiente em que realizam os atos linguísticos. O poder da palavra é o poder
de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante e concentrá-la num ato linguístico.
Os casos mais evidentes em relação a tal afirmação são também os mais extremos:
discurso político, sermão na igreja, aula, etc. As produções linguísticas deste
tipo, e também de outros tipos, adquirem valor se realizadas no contexto social
e cultural apropriado. As regras que governam a produção apropriada dos atos de
linguagem levam em conta as relações sociais entre o falante e o ouvinte. Todo
ser humano tem que agir verbalmente de acordo com tais regras, isto é, tem que “saber”:
a) quando pode falar e quando não pode, b) que tipo de conteúdos referenciais
lhe são consentidos, c) que tipo de variedade linguística é oportuno que seja
usada. Tudo isto em relação ao contexto linguístico e extralinguístico em que o
ato verbal é produzido. A presença de tais regras é relevante não só para o falante,
mas também para o ouvinte, que, com base em tais regras, pode ter alguma
expectativa em relação à produção linguística do falante. Esta capacidade de
previsão é devida ao fato de que nem todos os integrantes de uma sociedade têm
acesso a todas as variedades e muito menos a todos os conteúdos referenciais.
Somente uma parte dos integrantes das sociedades complexas, por exemplo, tem
acesso a uma variedade “culta” ou “padrão”, considerada geralmente “a língua”,
e associada tipicamente a conteúdos de prestígio. A língua padrão é um sistema
comunicativo ao alcance de uma parte reduzida dos integrantes de uma
comunidade; é um sistema associado a um patrimônio cultural apresentado como um
“corpus”, definido de valores, fixados na tradição escrita. (GNERRE, 2001, p.
5-6)
Controle do discurso e modos de reprodução discursiva
Uma condição
importante para o exercício do controle social por meio do discurso é o
controle do discurso e a sua própria produção. Sendo assim, as perguntas
centrais são: quem pode falar ou escrever o que, para quem, em que situações?
Quem tem acesso aos vários gêneros e formas do discurso ou aos meios de sua
reprodução? Quanto menos poderosa for uma pessoa menos o seu acesso às várias
formas de escrita e fala. No fim das contas, os sem-poder “não têm nada para
dizer”, literalmente, não têm com quem falar ou precisam ficar em silêncio
quando pessoas mais poderosas falam, como no caso das crianças, dos
prisioneiros, dos réus e (em algumas culturas, incluindo algumas vezes a nossa)
das mulheres. No dia a dia, a maior parte
das pessoas, na qualidade de falantes, possui um acesso ativo apenas nas
conversas com membros da família, amigos ou colegas de trabalho. De vez em
quando, em diálogos mais formais, essas pessoas podem falar como representantes
institucionais ou com superiores no trabalho, mas nesse caso assumem um papel
mais passivo e recreativo. Em uma delegacia de polícia, em um tribunal, em um
posto do serviço social, na sala de aula ou em outras instituições da burocracia
social, espera-se que falem ou que deem informações apenas se instadas a
fazê-lo ou se ordenadas a fazê-lo. Quanto à maior parte dos tipos de discurso
formais, públicos ou impressos (entre os quais, os da grande mídia), os menos poderosos figuram apenas como receptores.
Os grupos mais
poderosos e seus membros controlam ou têm acesso a uma gama cada vez mais ampla
e variada de papéis, gêneros, oportunidades e estilos de discurso. Eles
controlam os diálogos formais com subordinados, presidem reuniões, promulgam
ordens ou leis, escrevem (ou mandam escrever) vários tipos de relatório,
livros, instruções, histórias e vários outros discursos dos meios de
comunicação de massa. Não são apenas falantes ativos na maior parte das
situações, mas tomam a iniciativa em encontros verbais ou nos discursos
públicos, determinam o “tom” ou o estilo da escrita ou da fala, determinam seus
assuntos e decidem quem será participante e quem será receptor de seus
discursos. Deve-se ressaltar que o poder não aparece “nos” ou “por meio dos”
discursos, mas também que é relevante como força societal “por detrás” dos
discursos. Nesse momento, a relação entre discurso e poder é próxima e
constitui uma manifestação bastante direta do poder da classe, do grupo ou da
instituição e da posição ou status
relativos de seus membros.
O poder é
exercido e expresso diretamente por meio do acesso diferenciado aos vários
gêneros, conteúdos e estilos do discurso. Esse controle pode ser analisado de
modo mais sistemático nas formas de (re)produção do discurso, especificamente
em termos de sua produção material, articulação, distribuição e influência.
Dessa maneira, as empresas de comunicação de massa e seus (geralmente
estrangeiros) proprietários controlam tanto as condições financeiras quanto as
tecnológicas da produção do discurso, por exemplo, nos jornais, nas TVs, no
mercado editorial, bem como nas indústrias de telecomunicações e informática.
Por meio de investimentos seletivos controle orçamentário, contratação (e
demissão) de pessoal, e algumas vezes por meio da influência editorial direta
ou diretrizes, eles podem controlar parcialmente o conteúdo ou ao menos a
dimensão do consenso e dissenso da maior parte das formas de discurso público.
Para os meios de comunicação privados que dependem da propaganda, esse controle
indireto pode exercer-se também por meio de novos e proeminentes participantes
do cenário (geralmente institucionais) que fornecem com regularidade
informações das quais dependem os meios de comunicação. Esses mesmos grupos de
poder também controlam os vários modos de distribuição, especialmente os
discursos dos meios de comunicação de massa, e, por conseguinte, também
controlam parcialmente os mecanismos para exercer influência sobre a escrita e
a fala públicas. (Van DIJK, 2012, p.43-45)
Bibliografia
GNERRE,
Maurizio. Linguagem, Escrita e Poder.
São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Van DIJK, Teun A. Discurso e Poder. São Paulo: Contexto, 2012.